domingo, 22 de dezembro de 2013

Planejamento



Olhei para o lado e me deparei com aqueles olhos tão profundos quanto uma canção do Pink Floyd, desviei-os para encenar timidez. Intrinsecamente desejava que ele viesse até mim, mas ele apenas continuou a sua leitura, suspirei e continuei a minha, assim como todos na biblioteca. Ouvi o som de um livro se fechando e passos em minha direção, meu coração acelerou.

Minha mente começou a imaginar diferente coisas, quando tivéssemos nossos filhos, eles ouviriam Pink Floyd e riríamos assistindo a “O ladrão de raios”, apontando as piores falhas. Mas quando ainda fôssemos jovens, passaríamos por todas as aventuras, todas as ressacas, todas as delegacias, até um de nós dois ter que parar.

Viveríamos na estrada, dirigindo pelo país em uma kombi azul, vendendo bugigangas para pagar a gasolina e o a comida. Negar-nos-íamos a ser extorquidos pelo governo e não pagaríamos imposto de renda, seriamos procurados pela receita, mas não nos pegariam, colocaríamos o pé na estrada antes. “Nascidos para serem selvagens”,alguns diriam. Até o momento em que notávamos que a juventude nos fugia e tínhamos que nos assentar e levar uma vida sedentária porém feliz.

Os passos continuaram e passaram de mim. Meu interior encheu-se de frustração ao vê-lo dirigir-se às estantes e procurando outro livro. Soltei um longo suspiro e continuei a minha leitura. Nada na vida é como o planejado, e quando ocorre como tal, não tem emoção alguma.